Dicas básicas para filmar em 360º

Foto equiretangular de um estudio
Foto equiretangular de um estudio – Dicas básicas para filmar em 360º

A produção de vídeos em 360º (também chamados de imersivos) é bem diferente de outras maneiras de trabalhar com conteúdos no audiovisual. Este tipo de trabalho requer diversos cuidados que são mais trabalhosos e que se não forem observados podem facilmente arruinar seu resultado.

Eu não digo para esquecer tudo que você conhece porque o básico do trabalho é o mesmo. Todo o conhecimento que já se tem do mercado produção de vídeos também é aplicado aqui, mas é preciso levar uma série de outros fatores em consideração.

O desafio de gravar assim é grande. Por isso resolvi repassar aqui alguns conhecimentos que aprendi aqui e ali e que me ajudam bastante quando vou produzir algum vídeo em 360º. Antes de ler as dicas abaixo peço para que imagine um set de gravação onde não é possível ficar por trás da câmera e que tudo ao redor será gravado. Fique com essa imagem na cabeça ao ler as dicas abaixo.

Olhos que tudo vêem

Nas gravações tradicionais toda a equipe (diretores, cinegrafistas, assistentes…) fica por trás das câmeras, a iluminação fica ao redor e o cenário muitas vezes é apenas na frente. Acontece que no 360º isso não é possível já que essas câmeras filmam tudo que acontece por todos os lados ao redor delas. É como se não houvesse “a parte de trás” delas.

Você está vendo a câmera? Então ela pode te ver

Planeje muito bem a posição em que ficará a câmera e saia de seu campo de visão. Não deixe nada no cenário que não quer que apareça e cuide bem do ambiente ao redor para que não entrem curiosos na cena. SEMPRE tem alguém querendo saber o que é aquele aparelhinho estranho sobre o tripé no meio do caminho, então se for possível leve alguém para lhe ajudar nisso afastando os curiosos.

Escolha muito bem as locações

Não adianta ter o mesmo olhar ao escolher um cenário 360º. Tradicionalmente ao procurar por uma locação nossa atenção é voltada para um lado apenas. Por exemplo, vai filmar em uma praia, ou se escolhe a direção do mar ou da lateral onde aparece um pouco da areia e um pouco da água. Está certo para um cenário comum, mas na produção imersiva (360º) vão ser gravados também os bares no calçadão, o vendedor ambulante que está vindo lá atrás…

Há algo ali que não quer filmar? Então procure outro lugar

Basicamente aqui tudo que você não quer que apareça irá aparecer, então escolha um local observando tudo ao redor. Fique parado no local onde iria posicionar a câmera e vire-se para todos os lados, inclusive para cima e para baixo.

Filme mais do que precisa

A dica pode parecer igual ao que já acontece nas produções comuns mas acredite, aqui se faz ainda mais necessário. Nas gravações tradicionais filmamos mais para poder ter material extra para utilizar na edição. No 360º temos de fazer isso porque muito do que é gravado é descartado.

Acredite, sempre haverá algo que passou desapercebido depois que apertamos o botão do rec. Nosso olhar normalmente só observa o que está acontecendo no ponto principal da cena. Na hora de editar é que vamos notar que apareceu algum curioso passado pelo local, um objeto esquecido do outro lado… e com isso você perde o material.

Só não esqueça que os arquivos deste tipo de filmagem são muito maiores, se vai gravar mais, tenha em mente que irá precisar de mais espaço de armazenamento. Tenha cartões de memória com muito espaço à mão.

Cuidado com o tripé

Os tripés são os acessórios mais utilizados nas filmagens (acredito eu). Estabilizam a câmera, diminuem o risco de queda de equipamento, permitem fazer movimentos laterais de câmera… resumindo, ótimos equipamentos. Mas não no 360. Motivo? Vão aparecer na filmagem para seus espectadores quando olharem para baixo.

O que fazer então? Como posicionar a câmera sem um tripé?

Calma, exagerei um pouco no parágrafo acima. Eles continuam sendo ótimos aqui também. Mas você terá de remover digitalmente na pós-edição. Então tente não abrir muito as pernas de seu tripé, isso irá facilitar a remoção na edição.

Será que usar um monopé é melhor? Ajuda na hora de editar já que aparece em uma área menor do vídeo que o tripé. Mas (tem sempre um “mas”) cuidado se for utilizar em um dia de vento ou você verá a sua câmera cair no chão. Lembra que não dá para ficar perto dela no momento da filmagem? Pois é, uma câmera onde suas lentes são sobressaltadas basta uma pequena queda para ficar no prejuízo.

Aprenda como remover isso em seu software de edição, os melhores (FinalCut Pro X, Premiere…) tem este recurso. Se o software que está utilizando não faz isso troque de programa, este não vai lhe ajudar na edição deste tipo de produção.

Tempo ruim é sinônimo de iluminação ruim?

Não necessariamente isso é uma regra, vai depender bastante da escolha que você fez antes de adquirir uma câmera para seus trabalhos em 360º. Boa parte dos modelos vendidos no mercado tem problema para trabalhar com pouca luz. Felizmente isso está mudando e as mais recentes conseguem lidar bem com esta restrição. Algumas das mais modernas conseguem captar bem até mesmo de noite.

Mas mesmo as melhores do mercado vão demandar que você as conheça bem e que saiba como configurá-las para estas situações. A dica principal é fazer uma boa pesquisa de mercado para saber quais vão lhe proporcionar os melhores recursos para filmar em dias de céu nublado por exemplo.

Outra coisa: Mesmo que a sua câmera seja de excelente qualidade, que permita ser utilizada em baixo d’água e tudo mais, não vá filmar em dia de chuva. Gotas de água sobre as lentes irão estragar toda a filmagem. 

Seja criativo para iluminar a cena

Iluminação. Aqui está um dos pontos principais de qualquer produção, mas nas produções imersivas é outro desafio diferente. Como iluminar um ambiente sem que seus equipamentos apareçam? Não dá para simplesmente colocar um softbox ou rebatedor aqui e ali.

Primeiro tente utilizar a iluminação já presente. Acenda todas as luzes possíveis, abra as janelas, as portas e tudo mais que permita entrada de luz. Claro, com cuidado para que isso não atrapalhe a cena. Faça isso aliado às configurações de exposição e ISO de sua câmera. 

“ilumine sem iluminar”

Se ainda assim não resolver parta para a iluminação profissional. Pode ser complicado devido à área de captação da câmera já que qualquer outro equipamento irá aparecer. Abuse da criatividade e “ilumine sem iluminar”, quer dizer, ilumine em locais onde não atrapalhe a produção. Ilumine por trás de móveis, carros ou outros objetos que componham o set, do lado de fora da cena (ex. por fora de janelas e portas)… O importante é “iluminar sem iluminar”.

Equilibre a luz nas lentes

Essa dica é exatamente a mesma para quem trabalha com produção de fotos para tours virtuais. Cuide para que os dois lados de sua câmera (as lentes da 360º) recebam a mesma quantidade de luz. Se um luz mais forte estiver sobre uma das lentes apenas, metade da cena ficará muito clara e a outra metade escura.

Existem softwares que até tentam corrigir isso, mas não ficará tão bom quanto um bom equilíbrio de luz no momento da captação, além de facilitar depois na edição. Além disso, ter de utilizar um software para corrigir este tipo de problema pode sair bem caro tornando a sua produção inviável. O mais famoso destes softwares chama-se Mistika VR e custa 890,00€ anuais. Vale o investimento? Depende do que está produzindo.

Cuidado com os pontos de costura

Antes de mais nada, o que são pontos de costura? Simples, mais uma dor de cabeça que os produtores de vídeo convencionais não precisam se preocupar. Praticamente todas as câmeras que captam imagens em 360 graus trabalham da mesma forma: Uma lente na frente e outra por trás. O software delas trata de juntar o que elas filmam para que você não veja o espaço que não é captado. Este espaço entre elas é chamado de “costura”. 

Com o que está mais distante das laterais da câmera você praticamente não precisará se preocupar, mas o que estiver próximo deste ponto pode ficar deformado. A dica é manter objetos, pessoas e tudo mais afastados pelo menos uns 60cm de distância, isso depende de cada câmera mas no geral é esta distância.

Atenção redobrada na captura

Esta dica vai principalmente para quem faz a captação dos vídeos em 360º. Não dificulte a vida do editor que fará o tratamento e cortes posteriormente. Se a edição de vídeos tradicionais pode ser trabalhosa, imagine de um vídeo deste tipo. Então tente resolver todos os problemas que surgirem na gravação durante a gravação. Isso irá acelerar a pós-edição e os editores irão agradecer muito.

Use as configurações corretas da câmera

Em diversas situações você pode filmar com câmeras 360º utilizando as configurações automática mesmo. Mas isso não se aplica para todos os casos. Então, assim como na produção convencional de vídeos, conheça bem seu equipamento e utilize quando necessário os controles manuais.

Parece uma dica bem básica (e no fundo é) mas que lhe ajudará nos momentos de trabalho onde você não terá tempo para ficar testando muito os recursos. Mesmo este tipo de equipamento não tendo todos os controles de uma DSLR o que você conhece de filmagens tradicionais se aplica aqui também.

Utilizar LOG (se sua câmera permitir), taxa maiores de quadros (30fps, 60fps, 120fps…), resoluções altas como 4k ou mais, audio estéreo, binaural… são todos ótimos recursos, mas que não irão lhe ajudar muito se não souber utilizá-los. Conheça, teste, “brinque” com seu equipamento antes de sair para filmar a sério.

Cuidado com o movimento de cena

Geralmente este é um tipo de vídeo que atrai muito esportistas. É bastante comum encontrar vídeos em 360º feitos por praticantes de snowboard, skate e outros esportes radicais. O resultado normalmente é muito bonito e atraente para quem assiste. Mas antes de pensar em tentar produzir vídeos assim saiba que este é outro detalhe que terá de levar em consideração ainda mais do que nos vídeos tradicionais.

O motivo é simples: Não provoque enjoo em seu público. Imagine alguém assistir seu vídeo utilizando um óculos de realidade virtual e a imagem fica balançando o tempo todo. Garanto que eles não conseguirão continuar assistindo por muito tempo.

Quando for adquirir alguma câmera fique atento aos recursos de estabilização que ela tem. As mais simples possuem 3 eixos de estabilização, outras até mais. Utilizar algum acessório que lhe ajude a melhorar isso, como os gimbals, ajuda em um lado mas prejudica em outro pois irão aparecer na sua filmagem.

Seja como for, este é outro desafio maior na produção em 360º. Tente sempre estabilizar da melhor maneira possível, mantenha um movimento suave e constante e se possível invista em câmeras que já fazem isso por você. As melhores hoje em dia tornam este problema bem menor, ou quase inexistente, mas elas tem um custo mais elevado.

Esqueças as regras

Aprendeu as regras acima? Certo, agora esqueça todas elas. Tudo que falei acima foram pontos que aprendi aqui e ali quebrando a cabeça para conseguir fazer a melhor cena que eu podia no momento das gravações. Isso não quer dizer que tudo, ou mesmo alguma destas dicas, irá servir para você. Resolvi compartilhar estas dicas apenas para que você videomaker 360º que está começando tenha um ponto de partida. Mas quem vai dizer como serão as suas produções é você.

Seja criativo, invente, teste diferentes possibilidades, combine um tipo de cena com outra, remova todas as luzes e ilumine tudo… crie suas soluções. Faça isso e depois compartilhe também para que as suas dicas também ajudem outros que virão depois. Se quiser pode até contar comigo para isso. 

😉


Obs: Este conteúdo é amostra do que irá encontrar no livro Produção de conteúdos em 360º, o maior conteúdo em língua portuguesa sobre o assunto. Confira aqui. Quer contratar um profissional para produzir para você? Entre em contato

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