Um geek em um mundo de papel

Um geek em um mundo de papel
Um geek em um mundo de papel

O que acontece quando um geek resolve tentar experimentar o mundo real, aquele fora da web, longe das telas e dos keynotes, totalmente fora do que tanto conhecemos através de sites e do mundo da tecnologia? O que acontece quando ele tenta levar a tecnologia que conhece para o “mundo de papel“? Mas o que é o “mundo de papel”? É assim que resolvi chamar o mundo burocrático aí fora que parece tentar evitar ao máximo a chegada dos bits e bites, das telas portáteis e sensíveis ao toque.

Vou contar aqui algumas tentativas que fiz de tentar usar gadgets em situações que para nós seria muito comum mas que as pessoas por aí não souberam bem o que fazer e preferiram se agarrar ao “mundo de papel”.

Banco
Durante minhas últimas férias precisei pagar um boleto em uma cidade do interior paulista já que estava passando por lá. Como o valor era muito alto fui (mais ou menos a metade de um carro) fui até uma agência bancária. Ao invés de imprimi-lo resolvi levar na tela do iPad. Imaginei que não haveria o menor problema já que bastava ter o código de barras, o mesmo que utilizo normalmente para pagamentos pela Internet.

O problema começou já na entrada do banco. O iPad tem sua carcaça de alumínio, o que acabou disparando o detectou de metal. Chamei o segurança e mostrei o que era que estava levando mas para minha surpresa ele me disse que não poderia entrar levando aquilo, que eu deveria guardar em um armário ao lado da porta. Pensei comigo, ele está achando que vou assaltar alguém com um tablet? “Mão na cabeça, eu tenho um iPad e vou dar tabletada em todo mundo“.

Expliquei que precisava pagar um boleto e que ele estava ali mostrando para ele na tela mas não teve jeito, parecia que estava falando para uma parede. Neste momento passou uma funcionária do banco e tentei explicar o que estava havendo. Ela tentou me convencer que não poderia entrar mesmo já que o detector da porta não deixava. Todo mundo sabe que isso não é problema, basta o segurança liberar a passagem (sabiam que ele tem um controle no bolso que faz isso?). Ops… Contei o segredo.

Ela não sabia o que fazer e disse que um senhor de idade outro dia havia tentado entrar também com um e não deixaram. Fiquei imaginando o quanto este senhor está mais atualizado que o pessoal desta agencia. Pedi educadamente que ela então me chamasse o gerente geral. Apareceu um senhor muito bem vestido com aspecto de que era uma pessoa bem antenada e lhe contei o caso. Sabem o que ele me disse? Que a tecnologia ajuda muito, mas também atrapalha bastante. (Sim, atrapalha muito… A quem não sabe utilizá-lá).

As soluções que ele me propôs:

  • Pagar via Internet (o que não poderia já que o valor era muito alto).
  • Ligar para minha agência (em outro estado) e pedir para aumentar meu limite de pagamento em caixas eletrônicos (sinceramente, alguém já conseguiu fazer isso?).
  • Sacar o dinheiro e ir pagar em uma agência de outro banco (e correr o risco de ser assaltado na rua com tanto dinheiro no bolso).
  • Procurar uma loja “dessas coisas de informática (palavras dele) e imprimir o boleto. Como tinha de pagar naquele dia aceitei a contragosto, a idéia de imprimir.

Procurei, andei, perguntei até encontrar um lugar para isso. Imprimi, voltei ao banco e levei o tal papel até o caixa. Sabem o que aconteceu? Ele simplesmente digitou o código de barras e me devolveu o papel com um comprovante de pagamento. Não dava no mesmo ele ter feito isso com meu tablet?

Aeroporto
Outro caso parecido aconteceu durante a minha viagem à Manaus quando fui conhecer a fabrica da Nokia. Como não tinha bagagem para despachar já que tinha levado apenas uma mochila, fiz o checking do vôo de volta ainda no hotel e fui ao aeroporto. Chegando lá me dirigi ao salão de embarque e apresentei a passagem na tela do tablet. A moça que fica na entrada achou graça e comentou que era raro isso acontecer, mas ainda assim passou o aparelhinho no código de barras e tudo certo. Então fiquei por ali, próximo ao portão de embarque esperando a hora do vôo. No momento de entrar no avião adivinhem. Não quiseram aceitar mais o cartão na tela do tablet. Achei estranho e ainda expliquei que se eu estava ali, na sala de embarque, era porque já haviam liberado desta forma, mas não teve jeito.

O funcionário até tentou me explicar que precisava do papel para poder provar que eu estava dentro do avião. Tá… Como se não estivesse confirmado no sistema da empresa que eu estava ali. Ele me conduziu até o balcão de atendimento do lado de fora da área de embarque para que imprimissem o bilhete. O melhor veio da atendente quando chegamos lá: “Não precisa disso, basta passar no leitor de código de barras”. Ou seja, para que o papel?

Cinemas
Até que estes estão mais modernos e em vários é comum aceitarem o bilhete de entrada na tela de smartphones, mas ainda não é difícil enfrentar problemas nestes estabelecimentos. Basta sair dos grandes centros e você verá o que acontece..

Reuniões de trabalho
Outro dia estava eu em uma reunião de trabalho com uma grande agencia brasileira (óbvio que não direi qual) quando uma das resoluções era a de que precisariam de um formulário para coletar algumas informações. Não pensei duas vezes e rapidamente passei os dados deste formulário para a tela do tablet e apresentei a solução aos demais. A idéia era facilitar a coleta das informações e também a importação destas para um banco de dados de onde poderíamos criar todo o tipo de gráfico.

Claro que mostrei esta solução apenas porque sei que este é um tipo de equipamento bastante comum por lá. Mas ainda assim o “mundo de papel” falou mais alto. Adivinhem o que ouvi ao terminar de mostrar esta idéia? “Ficou ótimo, mas tem como imprimir o formulário? O pessoal não vai saber usar isso aí.

Mas e ai, o problema é do Brasil?
Estamos preparados para uma solução mais digital e de menos celulose? Em ocasiões como estas que descrevi fico pensando em soluções como as apresentadas pela Apple e Microsoft para carteiras digitais em seus sistemas operacionais móveis. Será que por aqui elas dariam certo? Acho muito difícil. Não acho que nosso país esteja atrasado para estas idéias, mas algum pessoas sim.

Estas “carteiras digitais” foram criadas para utilizar uma das tecnologias mais simples que existem, os códigos de barra. Basta um aparelhinho que leia estas informações e pronto. Mas ainda assim tenho certeza de que quem for tentar fazer isso vai enfrentar problemas. E olha que não estou ainda pensando em coisas mais modernas como Bluetooth ou NFC.

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